Como o ecoturismo nos parques brasileiros apoia a conservação da natureza?
Por muito tempo, especialistas discutiram os impactos da visitação em parques e Unidades de Conservação, questionando, em muitos casos, se a presença de pessoas poderia prejudicar a preservação da flora e da fauna. Atualmente, é quase unanimidade o reconhecimento de que o turismo de natureza responsável e bem gerido é fundamental para a conservação e a gestão sustentável de muitas destas áreas.
O crescimento do ecoturismo no mundo todo, que hoje envolve um mercado avaliado em mais de US$ 247,86 bilhões (2023), de acordo com um estudo da Skyquest, tem fortalecido a atividade como uma ferramenta importante para a conservação de áreas protegidas. Países onde o sistema de Parques Nacionais são referência, como nos Estados Unidos, fundaram os primeiros parques justamente com o objetivo de aliar turismo e conservação, possibilitando que mais pessoas tivessem acesso ao contato com a natureza e que ela pudesse se beneficiar destes encontros.
No Brasil, seguimos batalhando para que o turismo de natureza responsável ganhe cada vez mais valor e seja legitimado como um caminho ideal para proteger nossa biodiversidade, enquanto promove a saúde, o bem-estar e a diversão da população local e dos viajantes.
Dos 74 Parques Nacionais brasileiros, por exemplo, apenas 24 estão abertos à visitação e são menos ainda os que recebem visitantes com frequência. De acordo com o estudo Parques como Vetores de Desenvolvimento para o Brasil, do Instituto Semeia, os parques naturais brasileiros poderiam receber quatro vezes mais visitantes. Com este aumento, o turismo de natureza passaria a representar R$ 44 bilhões no PIB do país e gerar até um milhão de empregos. Embora nossa biodiversidade única e paisagens surpreendentes façam do ecoturismo uma vocação natural do Brasil, ainda precisamos evoluir. Ao comemorarmos recordes de visitação, precisamos lembrar que elas se concentram em pouquíssimos parques.
Mais do que o reconhecimento e incentivos pelos setores público e privado, precisamos fortalecer nossa cultura de visitação aos parques naturais. Em seu estudo mais recente, Parques do Brasil: Percepções da População 2024, o Semeia identificou que quase 30% dos brasileiros entrevistados nunca visitou um parque natural, embora 96% tenha sido capaz de citar o nome de um. É comum vermos pessoas que viveram a vida inteira ao lado de áreas protegidas e nunca visitaram estes locais. Em muitos casos apenas por falta de informação e uma dose de estímulo!
Lançar luz para o encanto e importância destes parques é um dos grandes propósitos da Futuri, que abraça 67 áreas naturais protegidas no extremo sul da Bahia, incluindo oito Unidades de Conservação federais. Estas áreas preservam importantes remanescentes de Mata Atlântica, além de grandes trechos de ecossistemas marinhos. Ali estão lugares de potencial único para que o desenvolvimento de um turismo cada vez mais responsável, regenerativo e autêntico caminhe lado a lado com a conservação.
No território de atuação da Futuri está, por exemplo, o Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal, sétimo mais visitado do país em 2023. Mas será que todos os visitantes de Caraíva têm consciência de que estão dentro de um Parque Nacional quando visitam o destino? E como a experiência deles pode ser mais transformadora se, além de praias, também vivenciarem uma trilha até o topo do Monte Pascoal e uma visita a uma aldeia indígena Pataxó?
Impactos positivos do ecoturismo na conservação
O turismo de natureza pode trazer uma série de benefícios significativos para os parques nacionais e Unidades de Conservação brasileiros e também para as pessoas e destinos. Entre eles estão:
– A geração de recursos para garantir a sustentabilidade econômica dos projetos de conservação, por meio de taxas de entrada, serviços turísticos e venda de produtos locais.
– A conscientização e sensibilização de visitantes e moradores da região sobre a importância de determinada área e da sua preservação.
– A criação de empregos locais e o desenvolvimento econômico de comunidades próximas às regiões de parques.
– Uma alternativa responsável para muitas práticas extrativistas negativas, como a caça e o desmatamento.
– Uma ferramenta de apoio para a pesquisa científica e monitoramento ambiental, através de iniciativas de ciência cidadã.
– A promoção do bem-estar e saúde de seus praticantes a partir da imersão na natureza.
Para Flavia Lopes Bertier, chefe substituta do Parque Nacional do Descobrimento, em Cumuruxatiba, Prado, “é através da visitação de áreas protegidas que os brasileiros têm contato com a natureza ali preservada, se encantam e se apropriam dessa riqueza, que é um bem de todos nós. Além disso, visitantes satisfeitos trazem mais visitantes, formando uma corrente de apoiadores e defensores das unidades de conservação”.
De acordo com o Instituto Semeia, “o turismo de natureza nos parques brasileiros pode ser um grande aliado da conservação e ambos serão potencializados se houver a colaboração dos diversos agentes que compõem esse ecossistema”. Esse trabalho de construção coletiva, que envolve especialmente um diálogo constante entre equipes e profissionais que atuam dos parques, o ICMBio e as comunidades do entorno, é uma das ações que a aliança Futuri vem promovendo. Se, em algum momento, acreditou-se que conservação e turismo sustentável podem ser jornadas individuais, hoje entendemos, cada vez mais, que as parcerias, o associativismo e o pensar e caminhar coletivo são primordiais nessas jornadas.
Seguindo este propósito, o Parque Nacional do Descobrimento vem investindo nas trocas e parceria com as aldeias Pataxó da Terra Indígena Comexatibá, que estão inseridas dentro da área do parque. Em 2022, o curso de formação de condutores qualificou condutores indígenas e não indígenas. “Essa formação foi muito importante para fomentar a visitação nas aldeias e gerar renda para seus moradores”, conta Flavia Bertier. No momento, as seis aldeias que estão na área de sobreposição ao parque (Kaí, Tibá, Pequi, Gurita, Monte Dourado e Alegria Nova) estão elaborando um Plano de Etnoturismo que descreve os produtos turísticos ofertados por elas. Assim, ficará mais fácil conhecer o que está disponível à visitação nessa parte do parque”.
É claro que o ecoturismo nos parques só pode gerar impactos positivos para a conservação se ele for realizado, de fato, de forma responsável e consciente. Caso contrário, o turismo de natureza pode se tornar tão predatório quanto outras atividades, comprometendo a integridade dos ecossistemas, a vida selvagem e a experiência dos visitantes, além de minar os esforços de conservação em longo prazo. No Manual de Boas Práticas para a Sustentabilidade no Turismo, da Futuri, há um capítulo dedicado à operação turística em ambientes naturais. Baixe o manual em: https://futuribrasil.com.
Há anos ouvimos que o Brasil tem todo potencial para se tornar referência mundial em ecoturismo. Está mais do que na hora de passarmos do potencial para a realidade e nossas incríveis áreas protegidas são o caminho para essa concretização.
O Roteiro Futuri conecta áreas naturais protegidas, comunidades tradicionais, negócios de turismo aliados à Futuri e o visitante, de uma forma mais sustentável e regenerativa. Saiba mais em: https://futuribrasil.com/roteiro/