Turismo regenerativo e as viagens que fazem bem para os destinos
Mais do que gerar impactos positivos, o turismo regenerativo nos desafia a reajustar nossa visão de mundo
Durante muito tempo, acreditamos que os turistas eram os grandes protagonistas das viagens e tudo (do travesseiro do hotel ao idioma falado nos passeios) deveria estar adaptado para satisfazer o viajante. Ainda há quem pense assim. Mas as emergências sociais e climáticas globais nos ajudaram a trazer um outro olhar: antes de mais nada, as viagens precisam fazer o bem para os destinos, para a biodiversidade e para as comunidades locais pois, sem eles, não há turismo. Sem eles, não há planeta.
Dentro dessa mudança de paradigma e da compreensão de que apenas os princípios da sustentabilidade não são mais suficientes para reverter as crises em que vivemos, alcançamos a ideia do turismo regenerativo. Se hoje precisamos de 1,7 planetas para manter nosso padrão de consumo, algo está errado! Necessitamos urgentemente transformar nosso modo de pensar e de fazer as coisas e isso inclui as viagens. Sustentar não é mais suficiente, precisamos regenerar o que já destruímos.
O olhar regenerativo pode ser aplicado em qualquer área e é um caminho necessário e ideal para o turismo, uma atividade que, acima de tudo, lida com sentimentos, conexões humanas, construções coletivas, intercâmbios culturais, construção da paz e encantamento por paisagens naturais. Sim, o turismo regenerativo abraça todos esses horizontes, buscando uma perspectiva abrangente e holística, onde os seres humanos e a natureza coevoluem em uma relação recíproca – um entendimento que, desde sempre, acompanha os povos indígenas.
Que melhor lugar então do que a Bahia para liderar exemplos de turismo regenerativo? O estado com a segunda maior população indígena do Brasil (mais de 229 mil, segundo o Censo 2022) tem sabedoria viva e pulsante para aprender, se inspirar e compartilhar. Quando a Futuri e seus aliados escolhem o caminho do turismo regenerativo, mostram que estão determinados a realmente cuidar de seus territórios, suas culturas, sua gente e recriar nosso modo tradicional (e tantas vezes predatório) de fazer viagens.
Nas palavras de Thaís Guimarães, coordenadora Sênior do Projeto Turismo+Sustentável da CI-Brasil, “a aliança Futuri está impulsionando o turismo regenerativo de forma inovadora no Extremo Sul da Bahia através da criação colaborativa e de um modelo de governança transversal descentralizado com foco em fomentar um turismo que não apenas minimize impactos negativos e a pressão humana sobre locais visitados, mas que também gere benefícios significativos para as comunidades locais, promovendo a conservação e a regeneração do patrimônio natural e cultural”.
Mas o que é Turismo Regenerativo?
Você certamente já ouviu falar de turismo sustentável e turismo responsável. Estas duas visões trazem propostas para uma adaptação das viagens às necessidades urgentes das pessoas e do planeta. Não são “estilos de viagem”, mas sim conceitos, estratégias e ações práticas que buscam mudanças em todas as áreas e nichos do turismo. De uma forma muito simplista, podemos pensar que esses dois termos têm propósitos complementares, uma vez que o conceito de turismo responsável nasceu com o entendimento de que precisamos percorrer uma jornada até a sustentabilidade e ela deve começar pela tomada de responsabilidade. Além disso, os profissionais defensores do turismo responsável acreditam que o conceito de turismo sustentável não estava dando conta do olhar para as questões individuais e necessidades de cada local e das comunidades anfitriãs.
Alguns anos depois, a percepção de que nenhuma das duas visões era mais suficiente para ajudar a resolver os desafios atuais e inspirado pelo conceito de desenvolvimento regenerativo, nasceu a ideia do turismo regenerativo. Mais do que um avanço no turismo sustentável ou um turismo que deixa o destino melhor do que estava, ela propõe uma ruptura na nossa visão de mundo e nosso modus operandi, que começa pelo entendimento de que o homem é parte da natureza e todos os sistemas vivos se impactam mutuamente. Especialistas, como Sonia Teruel, fundadora do The Regenlab for Travel, defendem que o primeiro passo no caminho da regeneração é desaprendermos, deixando claro que precisamos reconstruir nosso entendimento de como fazemos negócios, como nos relacionamos e, até mesmo, de como viajamos.
O turismo regenerativo tem alguns princípios que podem nos ajudar nessa reconstrução: o pensamento sistêmico, que entende que nenhum ser está isolado; a natureza como pilar principal; a nossa capacidade de acessarmos, constantemente, nossa relação com nós mesmos, com o outro e com o planeta; a importância da colaboração e inteligência coletiva; a qualidade ao invés da quantidade; as comunidades e destinos como protagonistas e tomadores de decisão; e o senso de lugar como indispensável para se preservar e entender as particularidades de cada território.
Seria impossível falar, em um único texto, de todos os aspectos que envolvem o turismo regenerativo. Não quero, com isso, desanimar ninguém. Muito pelo contrário! O aprendizado contínuo e coletivo é um dos grandes valores da regeneração. Não há regras estritas, não há respostas prontas e nem uma definição única para o que é o turismo regenerativo. Ele pode seguir alguns princípios, mas ainda é um caminho fluido, aberto a muitas possibilidades e, claro, a todas as pessoas. A jornada é coletiva, mas começa com o passo de cada um. Que passo você vai dar hoje para contribuir com essa transformação?
Esta mesma abertura, flexibilidade e construção coletiva, aliás, fazem também a essência da aliança Futuri. Esperamos que estejam animados para seguir construindo junto com a gente!
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Parabéns