Governança colaborativa é o caminho para destinos resilientes e mais sustentáveis
Por Ana Duék
Estamos preparados para viver e agir colaborativamente? Se buscamos o caminho da regeneração, esta precisa ser nossa escolha, especialmente no turismo. Cooperar, cocriar e trabalhar juntos, por interesses e conquistas comuns, são princípios inerentes do turismo regenerativo e há muito tempo contemplados na ideia de governança integrada, mas ainda pouco valorizados na gestão dos destinos.
Falhamos em reconhecer que não há mágica: destinos bem-sucedidos em suas jornadas de desenvolvimento sustentável normalmente têm por trás instâncias e programas sólidos de governança do turismo. Prosperam aqueles territórios que entendem que as alianças são as pontes para o futuro que queremos construir.
De acordo com a ONU Turismo, “a governança eficaz é uma condição fundamental para o desenvolvimento sustentável dos destinos turísticos. A sua eficiência depende em grande parte das interrelações entre os atores relevantes do setor, que através de processos participativos estão conectados na elaboração de políticas e decisões”.
Mas o que é governança turística?
A governança turística contempla um sistema de articulação política e institucional que integra os diversos atores do setor público, privado, terceiro setor e grupos comunitários envolvidos nas atividades de turismo de um determinado destino ou território. Através da cooperação, estas partes interessadas buscam fortalecer parcerias, desenvolver projetos, pensar e priorizar políticas públicas, criar estratégias para a promoção da região e implementar ações que assegurem o desenvolvimento sustentável do local.
Na governança colaborativa estes atores, ou stakeholders, trabalham juntos para identificar objetivos comuns, partilhar “dores”, recursos e responsabilidades e implementar programas e iniciativas que promovam resultados positivos para o destino como um todo. Historicamente, a governança turística esteve muito associada à liderança do poder público, mas essa perspectiva vem evoluindo com a participação cada vez mais relevante dos atores privados e do terceiro setor.
Como mencionam Borges, Eusébio e Carvalho em Governance for sustainable tourism: A review and directions for future research, “A governança representa um novo padrão de interação entre governo e sociedade para lidar com problemas novos e antigos ou criar novas oportunidades para o desenvolvimento sustentável do turismo”.
Governança Futuri
Movida por este forte e necessário momento da regeneração, onde colaborar com os atores locais tornou-se premissa para o desenvolvimento de um território mais sustentável, resiliente e próspero, nasceu a Futuri – Aliança pelo Turismo Regenerativo. Criada coletivamente por mais de 130 indivíduos durante a execução do projeto Turismo + Sustentável Abrolhos Terra e Mar, liderado pela Conservação Internacional (CI-Brasil), a Futuri faz valer a proposta de inclusão, onde todos são bem-vindos e têm valor dentro do território. Por isso, cada um dos mais de 200 aliados é considerado protagonista dentro da Governança Futuri.
Quais os benefícios de ser um Aliado Futuri?
- Fortalecer uma aliança que, unida, tem potencial para mais conquistas dentro do território;
- Assegurar o desenvolvimento sustentável do destino, trabalhando para transformar atitudes e práticas em todo o setor de turismo;
- Participar do desenvolvimento de novos atrativos e produtos turísticos que fortaleçam a cultura, a natureza e as comunidades locais;
- Ampliar o alcance de seus serviços com parcerias e comunicações integradas realizadas pela Futuri;
- Criar novas conexões e desenvolver benefícios comerciais coletivos entre os contatos de aliados Futuri;
- Acessar conteúdos, informações e promover a troca de experiências com outros aliados;
- Aprimorar o desenvolvimento sustentável do seu negócio, ofertando produtos mais amigáveis ao meio ambiente e às novas exigências dos turistas.
Exemplos do Brasil e do mundo
No interior de Minas Gerais, o Programa de Fomento do Turismo Sustentável em Brumadinho, desenvolvido em parceria com o Instituto Rede Terra, também se tornou referência em governança integrada no Brasil. Ele teve como pilar e primeira etapa um Projeto de Fortalecimento da Governança Turística com mobilização de diversos atores, associações, comunidades tradicionais e órgãos do poder público, que foi fundamental para todas as conquistas seguintes do programa, incluindo um projeto de diversificação das formas de financiamento para a cadeia produtiva do turismo e outro de fortalecimento do turismo rural e de base comunitária.
A governança colaborativa também é levada a sério no Mato Grosso do Sul, onde a FUNDTUR – Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul tem papel de destaque na promoção, qualificação e fortalecimento do desenvolvimento sustentável do destino, mas conta também com a atuação de diversas instâncias de governança em nível municipal e estadual, além do envolvimento ativo de muitos empresários em eventos, ações e políticas de turismo.
Para Mauricio Miramontes, fundador da iniciativa La Mano del Mono, que trabalha com educação ambiental, ecoturismo e aprendizagem experiencial para apoiar comunidades no México, sem governança, é pouco provável que um destino se desenvolva e perdure ao longo do tempo. “Nos destinos turísticos, principalmente naqueles que dependem da natureza, o que não se vê é o que mais importa. A governança não é vista. Não se pode tocar. Para um turista, a governança não é tangível. No entanto, é provavelmente o que há de mais valioso em um destino”, acredita o empresário.
“No México e na América Latina temos vários destinos que construíram uma governança sólida e eficiente. Do ponto de vista comunitário, Los Pueblos Mancomunados, na Serra Norte de Oaxaca, são um grande exemplo de governança comunitária de longa data em que diferentes comunidades colaboram entre si e integram governos e o setor privado para fortalecer o turismo através da empresa comunitária Expediciones Sierra Norte e cada um de seus centros ecoturísticos. Para isso, contam com uma estrutura organizacional de mais de 200 anos que dá força, doam trabalho e tempo de voluntariado”, conta Mauricio Miramontes.
Conquistas da governança colaborativa:
Atuar no território através de um modelo de gestão de governança colaborativa traz uma série de benefícios para o desenvolvimento sustentável. Estes são alguns deles:
- Tomada de decisão inclusiva: envolve diferentes partes interessadas no processo de tomada de decisão, garantindo que diversas perspectivas e interesses sejam considerados.
- Aumento da transparência: promove a transparência nas operações e decisões, construindo confiança entre os envolvidos.
- Maior comprometimento: as partes interessadas tendem a se comprometer mais com as decisões e ações quando participam ativamente do processo.
- Inovação e criatividade: a colaboração entre diferentes grupos pode estimular a inovação e a criatividade na solução de problemas e na criação de novas oportunidades.
- Responsabilidade compartilhada: distribui a responsabilidade entre os diversos atores, reduzindo a carga sobre uma única entidade ou pessoa e aumentando a responsabilidade coletiva.
- Resolução de conflitos: facilita a resolução de conflitos através do diálogo e da negociação, promovendo um ambiente mais harmonioso e cooperativo.
- Utilização otimizada de recursos: facilita a reunião de recursos de múltiplos setores, incluindo recursos financeiros, humanos e técnicos.
- Soluções resilientes e sustentáveis: promove o desenvolvimento de soluções resilientes e sustentáveis para desafios complexos. Ao considerar diversas perspectivas e interesses, é mais provável que os esforços colaborativos abordem questões e causas profundas, conduzindo a impactos positivos duradouros.
- Fortalecimento da comunidade: incentiva a coesão e o fortalecimento da comunidade, criando redes de apoio mútuo e colaboração contínua.